A estratégia de dominação empregada pelo governo Médici – FUVEST 2016
ARMA DA PROPAGANDA
Bóris Fausto, História do Brasil. Adaptado
O governo Médici não se limitou à repressão. Distinguiu claramente entre um setor significativo mas minoritário da sociedade, adversário do regime, e a massa da população que vivia um dia a dia de alguma esperança nesses anos de prosperidade econômica. A repressão acabou com o primeiro setor, enquanto a propaganda encarregou-se de, pelo menos, neutralizar gradualmente o segundo. Para alcançar este último objetivo, o governo contou com o grande avanço das telecomunicações no país, após 1964. As facilidades de crédito pessoal permitiram a expansão do número de residências que possuíam televisão: em 1960, apenas 9,5% das residências urbanas tinham televisão; em 1970, a porcentagem chegava o 40%. Por essa época, beneficiada pelo apoio do governo, de quem se transformou em porta voz, a TV Globo expandiu-se até se tornar rede nacional e alcançar praticamente o controle do setor. A propaganda governamental passou a ter um canal de expressão como nunca existira na história do país. A promoção do “Brasil grande potência” foi realizada a partir da Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), criada no governo Costa e Silva, mas que não chegou a ter importância nesse governo. Foi a época do “Ninguém segura este país”, da marchinha Prá Frente, Brasil, que embalou a grande vitória brasileira na Copa do Mundo de 1970.
A estratégia de dominação empregada pelo governo Médici, tal como descrita no texto, assemelha-se, sobretudo, à seguinte recomendação feita ao príncipe – ou ao governante – por um célebre pensador da política:
(A) “Deve o príncipe fazer-se temer, de maneira que, se não se fizer amado, pelo menos evite o ódio, pois é fácil ser ao mesmo tempo temido e não odiado”.
(B) “O mal que se tiver que fazer, deve o príncipe fazê-lo de uma só vez; o bem, deve fazê-lo aos poucos (…)”.
(C) “Não se pode deixar ao tempo o encargo de resolver todas as coisas, pois o tempo tudo leva adiante e pode transformar o bem em mal e o mal em bem”.
(D) “Engana-se quem acredita que novos benefícios podem fazer as grandes personagens esquecerem as antigas injúrias (…)”.
(E) “Deve o príncipe, sobretudo, não tocar na propriedade alheia, porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai que a perda do patrimônio”.
Resposta:
Alternativa Correta: B) “O mal que se tiver que fazer, deve o príncipe fazê-lo de uma só vez; o bem, deve fazê-lo aos poucos (…)”.
O exercício faz referência ao pensamento político de Maquiavel. No caso, o governo Médici lidou com duas realidades: os adversários do regime, rapidamente reprimidos, e um segundo setor da sociedade, cujas esperanças foram gradualmente alimentadas pelo ufanismo próprio deste governo. Assim, temos o mal feito de uma só vez, e o bem feito aos poucos, seguindo o conselho maquiavélico.