As declarações de Graciliano Ramos na Carta e o excerto – FUVEST 2018 (…) procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? N� …
(…) procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sono, e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos, mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás. (…)
(…) Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas.
Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinha Vitória guardava o cachimbo.
(…)
Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.
(…) Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas.
Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinha Vitória guardava o cachimbo.
(…)
Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.
As declarações de Graciliano Ramos na Carta e o excerto do romance permitem afirmar que a personagem Baleia, em Vidas secas, representa
(A) o conformismo dos sertanejos.
(B) os anseios comunitários de justiça social.
(C) os desejos incompatíveis com os de Fabiano.
(D) a crença em uma vida sobrenatural.
(E) o desdém por um mundo melhor.
Resposta:
Alternativa Correta: B) os anseios comunitários de justiça social.
Ao recuperar – no trecho da carta que envia à esposa – a passagem do romance em que Baleia deseja acordar em um mundo repleto de preás e, na sequência da missiva, reiterar que é “exatamente o que todos nós desejamos”, parece clara a evidência do anseio pela justiça social, que permeia toda a concepção do romance Vidas Secas. Tal ideia ainda é corroborada pela afirmação de que ele, Graciliano Ramos, deseja que todos os preás (símbolo de tal justiça no excerto) apareçam “antes do sono”, ou seja, de fato aconteça na vida, ao passo que o padre Zé Leite considera isso utopicamente.