Considerando os poemas, assinale a alternativa correta. – FUVEST 2019
Sonetilho do falso
Fernando Pessoa
Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.
Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.
Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo*,
eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto.
Fernando Pessoa. Mensagem
Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.
Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.
Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo*,
eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto.
Considerando os poemas, assinale a alternativa correta.
(A) As noções de que a identidade do poeta independe de sua existência biográfica, no “Sonetilho”, e de que o mito se perpetua para além da vida, em “Ulisses”, produzem uma analogia entre os poemas.
(B) As referências a Mefisto (“diabo”, na lenda alemã de Fausto) e a Deus no “Sonetilho” e em “Ulisses”, respectivamente, associadas ao polo de opostos “morte” e “vida”, revelam uma perspectiva cristã comum aos poemas.
(C) O resgate da forma clássica, no “Sonetilho”, e a referência à primeira pessoa do plural, em “Ulisses”, denotam um mesmo espírito agregador e comunitário.
(D) O eu lírico de cada poema se identifica, respectivamente, com seus títulos. No poema de Drummond, trata-se de alguém referido como “falso Fernando Pessoa”, já no poema de Pessoa, o eu lírico é “Ulisses”.
(E) Os versos “As coisas tangíveis / tornam-se insensíveis / à palma da mão. // Mas as coisas findas, / muito mais que lindas, / essas ficarão”, de outro poema de Claro Enigma, sugerem uma relação de contraste com os poemas citados.
Resposta:
Alternativa Correta: A) As noções de que a identidade do poeta independe de sua existência biográfica, no “Sonetilho”, e de que o mito se perpetua para além da vida, em “Ulisses”, produzem uma analogia entre os poemas.
A existência biográfica não tem relevância para a composição do poema, que é gerado ficcionalmente. A chave de ouro do sonetilho (mas não sou eu, nem isto) exemplifica a distância do aspecto biográfico do eu lírico em relação ao texto produzido. Em Ulisses, nota-se que o mito prescinde da existência real, biográfica. Conclui-se que tanto a poesia como os mitos são ficcionais.