E grita a piranha cor de palha, irritadíssima: – Tenho – FUVEST 2019 E grita a piranha cor de palha, irritadíssima: – Tenho dentes de navalha, e com um pulo de ida-e-volta …
E grita a piranha cor de palha, irritadíssima:
– Tenho dentes de navalha, e com um pulo de ida-e-volta resolvo a questão!…
– Exagero… – diz a arraia – eu durmo na areia, de ferrão a prumo, e sempre há um descuidoso que vem se espetar.
– Pois, amigas, – murmura o gimnoto*, mole, carregando a bateria – nem quero pensar no assunto: se eu soltar três pensamentos elétricos, bate-poço, poço em volta, até vocês duas boiarão mortas…
*peixe elétrico.
Assuntos:
Guimarães Rosa
Esse texto, extraído de Sagarana, de Guimarães Rosa,
(A) antecipa o destino funesto do ex-militar Cassiano Gomes e do marido traído Turíbio Todo, em “Duelo”, ao qual serve como epígrafe.
(B) assemelha-se ao caráter existencial da disputa entre Brilhante, Dansador e Rodapião na novela “Conversa de Bois”.
(C) reúne as três figurações do protagonista da novela “A hora e vez de Augusto Matraga”, assim denominados: Augusto Estêves, Nhô Augusto e Augusto Matraga.
(D) representa o misticismo e a atmosfera de feitiçaria que envolve o preto velho João Mangalô e sua desavença com o narrador-personagem José, em “São Marcos”.
(E) constitui uma das cantigas de “O burrinho Pedrês”, em que a sagacidade da boiada se sobressai à ignorância do burrinho.
Resposta:
Alternativa Correta: A) antecipa o destino funesto do ex-militar Cassiano Gomes e do marido traído Turíbio Todo, em “Duelo”, ao qual serve como epígrafe.
O texto compõe a epígrafe do conto “Duelo” de Sagarana. Na narrativa, Turíbio Todo testemunha o adultério da esposa, Silivana, e, ao tentar, posteriormente, assassinar o amante dela, Cassiano Gomes, mata por engano Levindo Gomes. Turíbio foge porque sabe que será perseguido até a morte pelo irmão da vítima. No entanto, o amante, nessa busca, morre do coração num lugarejo, não executando a vingança. Alertado sobre a morte de Cassiano, Turíbio volta para seu lar, mas, no caminho, é abordado por Timpim, também chamado Vinte-e-um, o qual concretiza, por gratidão a um favor prestado por Cassiano, a vingança, mata Turíbio Todo. No conto não ocorre o duelo entre os dois oponentes, mas a morte de ambos foge daquilo que se esperava inicialmente. Esse sentido, anunciado já na epígrafe, na conversa entre a piranha, a arraia e o gimnoto, concretiza-se no desfecho da história.